A Lua voltou a ser objeto espacial de interesse não somente por parte da NASA, como de agências espaciais e empresas privadas em diversos países. Apesar de relativamente pouco explorada desde o fim do programa Apollo, a Lua nos forneceu conhecimentos científicos suficientes nas últimas décadas para que, agora, possamos retornar para lá e, além de fazer muito mais descobertas contando com as tecnologias mais modernas, também darmos um passo além: a permanência constante de humanos no satélite natural da Terra. Mas, entre os diversos perigos que esses exploradores encontrarão, está a poeira lunar.
John Cain, especialista britânico sobre riscos da exploração lunar e consultor independente de saúde de astronautas, levanta a questão. Ele foi o primeiro cientista a definir a nova disciplina científica chamada de “higiene astronáutica”, que é um ramo da medicina ocupacional para controlar os riscos que astronautas enfrentam no espaço.
Ele diz que “é essencial que a natureza da poeira lunar seja conhecida, bem como seus efeitos no corpo sejam compreendidos, além das rotas de exposição identificadas e os meios para reduzir a exposição sejam resolvidos”. E, bem, nações como Estados Unidos, Reino Unido, China, Rússia, Índia e a União Europeia já vêm trabalhando neste tipo de estudo.
Na época das missões Apollo, os astronautas tiveram de lidar com a poeira lunar de um jeito bastante precário, e Buzz Aldrin, da Apollo 11, chegou a contar que “quanto mais tempo você passa lá, mais fica coberto com poeira lunar em seu capacete e botas”. Gene Cernan, da Apollo 17, levantou que “a poeira provavelmente é um dos maiores inibidores de uma operação lunar”.
Esses astronautas que visitaram a superfície lunar entre 1969 e 1972 confirmaram a natureza abrasiva da poeira, e Aldrin disse que essa poeira lunar cheirava “como carvão queimado ou algo semelhante a cinzas em uma lareira, especialmente se você borrifar um pouco de água nela”. Harrison Hagan “Jack” Schmitt, da Apollo 17, chegou até a ter sua saúde afetada por conta disso: ele teve o primeiro caso registrado do que foi chamado de febre do feno extraterrestre, sentindo uma reação que fez com que as placas de cartilagem em suas paredes nasais inchassem significativamente.
Caim ressalta que o regolito lunar contém vários tipos de poeira reativa, incluindo dióxido de silício, óxido de ferro e óxido de cálcio. E, bem, o dióxido de silício é altamente tóxico: aqui na Terra, poeiras contendo esta substância são responsáveis pela silicose, doença pulmonar que representa até mesmo risco de morte. Caim explica ainda que “a localização da deposição de partículas de poeira nos pulmões dependerá do tamanho das partículas, com as nanopartículas penetrando profundamente nos pulmões; a menor gravidade da Lua terá um impacto significativo no local onde as nanopartículas são depositadas e os efeitos subsequentes à saúde na exposição”.
Sendo assim, pesquisas visando os efeitos da exposição humana a essas nanopartículas em um ambiente de baixa gravidade são essenciais para entender o risco de astronautas desenvolverem problemas pulmonares, e também é preciso descobrir maneiras de controlar a exposição humana à poeira lunar. Medidas como trajes espaciais com baixa retenção e poeira e técnicas de separação dos elementos que compõem a poeira podem ser uma solução à vista.
Ainda, “os insights aprimorados sobre a fisiologia e a medicina humana, em particular a respiração em um ambiente de baixa gravidade, trarão benefícios potenciais na Terra — por exemplo, no desenvolvimento de novos meios para fornecer medicamentos e no desenvolvimento de novos tratamentos”, de acordo com Cain.
O especialista completa com o seguinte: indivíduos com a composição genética necessária para resistir à radiação e os impactos a longo prazo da microgravidade terão uma vantagem e tanto nas viagens lunares. Além disso, Cain levanta a ideia de que o estabelecimento de assentamentos permanentes na Lua vai exigir o desenvolvimento de legislações de saúde e de segurança que hoje não existem, tudo para garantir que os astronautas trabalhem em condições realmente seguras. “Haverá a necessidade de desenvolver estabelecimentos de treinamento, educação e pesquisa, e o desenvolvimento de vacinas para combater o potencial surgimento de micróbios patogênicos nos assentamentos devido a mutações”, afirma.